:: enfim, apareceu aquele pôr do sol...

8.12.06


O forte barulho da corredeira batendo nas pedras acabou fazendo Jones ficar mais calmo e, por fim, relaxar um pouco. Quando fixa seus olhos na lagoa adquire uma paz e um conforto espiritual muito grande, ao ponto de quase faze-lo adormecer. As correntes começavam enfraquecer, as águas tornavam-se cada vez mais transparentes. Então, ele consegue ver o próprio rosto refletindo na água espelhada. Em seguida, no fundo da lagoa, começam emergir milhares de bolhas de ar que diluem a sua imagem até o desaparecimento completo. Gases misteriosos aparecem sob forma de vapor e névoa fazendo-o entrar em um transe profundo; porém, ele ainda mantém a fixidez de seus olhos para o interior do lago.Repentinamente, começam a surgir lembranças, resgatando imagens esquecidas no passado, situações que havia fugido à sua memória há muito, quando ainda seus pais ainda o acariciavam em seu berço. Tudo o que havia esquecido em tempos remotos de sua vida, agora vinha à tona, como se fosse em um filme projetado em sua frente, com toda clareza e nitidez possível.Seu avô sempre contava que os pais do pequeno Jones haviam ido de navio à uma cidade muito distante e, um dia, ele os encontraria. Na verdade, os pais de Jones foram vítimas de um naufrágio. Seu pai se chamava Davisson Gerard, um comerciante de especiarias, e sua mãe, Madalen Elizabeth, uma excelente esposa que quase sempre o acompanhava em seus negócios. Em um dia de revoltosos tormentos marítimos, o navio em que estavam acabou submergindo ao chocar-se contra rochedos que se interpuseram, de súbito, à frente da proa do navio.Absorto em lembranças, via-se brincando ao lado de seu avô, enquanto o velhinho tocava melodias do realejo na praça da cidade. Em seu devaneio, começa a lembrar de cenas mais recentes de sua vida: do momento que entrara no parque, quando o guarda puxava pelo seu braço enquanto brincava no carrossel e até o instante em que a tampa do baú fechou em sua cabeça. Jones começa a suar frio, pois não imaginava o mundo onde tinha ido parar, chegando à conclusão de que tudo o que vivenciara não fazia parte de seu mundo real. Ainda fitando o olhar na lagoa, vai retomando uma imagem, mas ao deparar-se de perto com a visão, assusta-se, enfrentando o desconhecido sem arredar o olhar. A imagem vai se definindo lentamente , e quando, finalmente, surge por inteira, visualiza um homem adulto, de longos bigodes e barba bem amparada. Voltam a mover-se as correntezas, fazendo desaparecer o foco de sua inesperada visão. Em seguida ,o movimento das águas estaciona, fazendo com que conseguisse enxergar sua face refletida na água. Ao olhar a parede de rocha que dividia a galeria, viu-se aparentemente sem saída. Colocou os seus ouvidos na pedra para constatar se o som das águas estavam vibrando do outro lado da gruta, e conclui, de acordo com os ecos a probabilidade de haver alguma passagem . Como não havia nenhuma fenda, buraco, ou alguma passagem que lhe permitisse seguir em frente, pensou que só havia uma ultima chance para escapar de onde estava.Ao olhar o lago , imaginou que somente em seu fundo poderia haver passagem. Não hesitando, encheu seus pulmões cheios de ar tomando todo fôlego e mergulhou profundamente. Chegando ao fundo, nadou intensamente contra a correnteza, vendo uma passagem que a fresta da rocha revelava – era o momento decisivo: era tudo ou nada. Necessitava vencer a maligna correnteza .Impulsionou seu corpo, ainda que seu fôlego estivesse findando, conseguiu prender-se por entre as fendas das pedras. De repente, a corrente acalmou, permitindo-lhe atravessar a passagem para a nova galeria, quando, finalmente, o pequeno herói consegue emergir para o outro lado.